OURINHOS PERDE O ÍCONE DA MUSICA SERTANEJA, FALECEU NESTE SÁBADO O ZÉ DO CRAVO
ZÉ DO CRAVO COMO ERA CONHECIDO PELOS AMIGOS QUE OUVIAM SEU PROGRAMA TODO DOMINGO PELA RÁDIO CLUBE E FOI O CRIADOR DO BORDÃO FALO, FALO SIM
Faleceu na manhã de hoje, 19/03, Aristides Aguiar Lopes de 81 anos, o Zé do cravo. Considerado um ícone da musica sertaneja raiz, era muito querido por todos. Deixando três filhos e muitos netos foi agora morar com DEUS. Seu corpo está sendo velado no centro velatório da Funerária São Benedito e seu enterro será neste domingo as 09h00min no cemitério de Ourinhos.
Veja texto produzido pelo Jornal Debate em 2.007 com o locutor ZÉ DO CRAVO
Falo, falo sim. É assim que Aristides de Aguiar Lopes, 77, conhecido por Zé do Cravo o nome de batismo é só no documento comanda mais de dez horas de música caipira raiz pelo microfone da rádio Clube, de Ourinhos, cujo acervo musical ainda é em disco. O apelido ele ganhou em Santa Cruz do Rio Pardo, da antiga dupla caipira (que não deu certo) com Zé Campinho. Nascido no bairro rural Jacutinga, onde morou até a adolescência, Zé confessa: Gosto mesmo é da antiga música caipira. Ele traz discos de casa para tocar na rádio. E não adianta inovar com a música sertaneja moderna. Tentei misturar na programação, mas o meu ouvinte é exigente. Um ligou e me disse: tira essa lavagera, toca o modão antigo, conta Zé do Cravo. Com muitos anos de estrada no ramo, Zé começou cantando com o xará Zé Campinho em 1958. Os dois sonhavam com o estrelato. Depois de animar comícios, festa no sítio e tudo que é evento na zona rural de Santa Cruz, decidiram aportar, em 1964, em São Paulo período difícil do Brasil, quando o país perdeu a democracia e ganhou um regime ditatorial. Já muito conhecida na região, a dupla queria entrar no mundo artístico para gravar um disco. A música caipira tinha muita força no início da década de 60. O Brasil ainda não tinha passado pelo êxodo rural que expulsou o homem do campo para a cidade. O companheiro Zé Campinho se rabichou por uma mulher, casou-se e foi morar em Ponta Grossa-PR. A dupla teve que se divorciar. Dupla sertaneja é igual a casamento. Quando um larga, é difícil acertar outro igual. Os dois têm que ter gogó bom. Sem isso, não emplaca, conta Zé do Cravo. Sem o companheiro, desfez a dupla depois de uma tentativa de gravar um elepê após contato com Nhó Zé, famoso apresentador do Alvorada Cabocla pela rádio Nacional (atual Rádio Globo de São Paulo). Só restou voltar para Santa Cruz. Depois de um período na capital, aceitou convite para virar locutor na rádio Difusora, devido à experiência de cantar em programas radiofônicos. A emissora pertencia a Carlos Queiroz, prefeito e líder político que morreu prematuramente num acidente automobilístico. Zé do Cravo entrou na emissora em 1970. Depois, a emissora mudou de comando, com a família Pimentel à frente do empreendimento. O apresentador ainda não se esquece de 1977, quando o ex-prefeito Joaquim Severino Martins e Amerquiz Júlio Ferreira compraram a emissora. Dois anos depois dos novos donos, Zé do Cravo veio para a recém-inaugurada rádio Sentinela, em 30 de setembro de 1979. Desde então, nunca mais saiu de Ourinhos. Atualmente na rádio Clube, só comanda ao vivo, das 5h às 9h, o Domingo Alegre Sertanejo Classe A e, das 12h às 18h, aderiu à tecnologia: é tudo gravado. Afinal, ninguém é de ferro, explica. O programa mantém uma tradição que conquista ouvintes no Norte do Paraná e na região paulista. Os famosos bolachões disco de vinil alegram as manhãs e tardes de domingo. Raridades como Belmonte e Amarai, Tião Carreiro e Pardinho, Pedro Bento e Zé da Estrada, Teodoro de Sampaio (dos bons tempos), Torres e Florêncio, Alvarenga e Ranchinho, Tonico e Tinoco são presenças garantidas na programação. De vez em quando, o velho disco enrosca, mas Zé do Cravo mantém a tradição com música de um Brasil agrário sob forte influência de vários elementos da cultura, que foi por muito tempo sinônimo de arcaico. Os tempos mudaram. A música raiz tem um espaço na Música Popular Brasileira, enquanto a sertaneja essa atual que mistura rock, viola e brega é a perpetuação da massificação fonográfica que se firmou depois da ditadura, quando o homem foi expulso da roça e veio para as periferias das cidades engrossar as favelas.